Vale realmente a pena?

Riscos em Cirurgia Plástica

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Uma paciente entra no consultório, motivada para se submeter a uma cirurgia plástica. A consulta demora cerca de uma hora, raras vezes menos, muitas vezes mais do que isso. Inevitavelmente surge a pergunta: “esta cirurgia tem riscos?”.

Este é um dos momentos que melhor define o dilema que está subjacente à cirurgia plástica, na sua vertente mais electiva: ao decidir submeter-se a um procedimento cirúrgico, a paciente opta livremente por um tratamento que não é isento de risco e que visa, não salvar ou manter a vida, mas sim melhorá-la. O peso desta decisão é importante e define o carácter único desta especialidade médica. Da parte do cirurgião, é necessário efectuar a cirurgia com o melhor saber técnico e o controlo de todas as variáveis passíveis de serem controladas. Da parte da paciente, é importante comprometer-se a tratar o melhor possível do resultado cirúrgico, cumprir com as recomendações peri-operatórias, perceber que o imponderável pode acontecer e pesar esse facto na decisão final. Por fim, é importante seleccionar um profissional competente, tecnicamente preparado e merecedor da confiança nele depositada.
 
É fácil julgar erradamente o papel da cirurgia plástica, especialmente se atendermos à imagem de “pronto-a-vestir” que por vezes os próprios cirurgiões plásticos permitem que exista. Aí, o mea culpa deverá ser assumido, analisado e corrigido, para que à cirurgia plástica seja devolvida a imagem correcta e a sua importância primordial na mudança da qualidade de vida das pacientes. Para melhor entendermos o que significa a “imagem correcta” desta especialidade, nada como acompanhar as consultas de pós-operatório do cirurgião plástico. Na consulta dos 6 meses, aquilo que vemos na paciente é uma forma de vestir, uma atitude corporal e um brilho no olhar que contrastam claramente com a consulta pré-operatória. As cintas, as massagens de drenagem linfático, as cicatrizes… toda esta panóplia de rotinas pós-operatórias já está resolvida e a paciente começa a ver o resultado da cirurgia. A imagem que o espelho lhe devolve, começa a parecer-se com a imagem mental que tinha de si própria e aproxima-se das expectativas que, de uma forma honesta e realista, foram trabalhadas na primeira consulta. A imagem que temos ao ver o sorriso da paciente, corresponde a uma palavra - felicidade. Este é o dia-a-dia da esmagadora maioria dos casos do cirurgião plástico. Ele volta a casa, com a consciência clara de que contribui diariamente para a felicidade de quem trata. Esta felicidade não se esgota na paciente. Transparece para as relações com os outros, com os amigos e amigas, com o marido ou a mulher. 
 
De uma forma muito real, a cirurgia plástica torna a vida da paciente melhor. Não resolve problemas, como é óbvio, mas melhora a forma como ela os enfrenta. No fundo, melhora o bem estar físico, psicológico e social da pessoa. Curiosamente, esta é a definição de Saúde tal como a OMS a descreve. Assim, a cirurgia plástica é a área médica que talvez melhor trate, na globalidade, todas as vertentes do conceito de Saúde e merece que seja entendida e respeitada como tal - pela sociedade, pelos pacientes, pelos médicos de todas as outras especialidades e pelos próprios cirurgiões plásticos. Nunca antes esta necessidade foi tão premente nem tão merecida.

Porto, 4 Outubro 2020